lunes, 3 de octubre de 2016




De Turf Un Poco, segue seu caminho

 


Desvios de linhas acontecem nas corridas. Desvios na linha da vida também. O da corrida, puniu de maneira feroz e injusta nosso pai, retirando sua vitória no GP Bento Gonçalves de 1961. Desvio que não prejudicou o favorecido, diga-se. Custou e ainda custa muito caro a nossa família a decisão de 55 anos atrás. Agora, setembro, outro desvio nos atinge inapelável e ainda mais feroz. Mário Rozano, filho do jóquei de Lord Chanel no Bento de 61, meu irmão, partiu na noite do dia 26. Há uma junção de palavras no nome de ambos: Mar e Rio. A imagem do pai ser o mar e o meu irmão ser o rio, seu afluente, nasce ao natural. E somente poderia ter um resultado mais que previsível: o amor pelo turfe. Acompanhamos o Rossano jóquei, embora a lembrança mais recente de suas atuações esteja nos anos 60, quando a adolescência nos visitava e o pai, ferido pelas quedas do ofício, iniciava sua despedida das pistas. Mais tarde, a vida nos levou por outros caminhos, cada um construindo a sua, e o pai dava seus primeiros passos como treinador no Hipódromo do Cristal. Nessa etapa de sua vida estive mais presente, em especial nas matinais, vendo como se treina um cavalo para vencer. Depois, o Mário, rio, começou a estreitar em definitivo seus laços com o turfe e eu fui exercer minha profissão de jornalista na cultura. Na verdade, o rio nunca se afastou do mar. Desembocou com força, determinação e muita garra. Aprendeu tudo e quem sabe um pouco mais. O tempo continuou sua rotina de passar batendo recordes, e de repente nesse universo ainda misterioso da internet aparece mais um blog de turfe. Não era um blog comum e sua trajetória sempre foi diferenciada. De Turfe Um Pouco. Homenagem a um cronista aqui de Porto Alegre, que escrevera um livro com esse nome. E lá estava programa de nossa cidade, de Maroñas, San isidro, Palermo com uma intimidade característica de quem é realmente íntimo desses lugares. E as viagens se sucedendo, os grandes prêmios se acumulando em seus olhos e lembranças, palavras e imagens. E os amigos nominados com respeito, admiração, carinho e devoção. Então, o pai decidiu que era hora de partir. Abril de 2014. O mesmo dia 26 que agora nos aflige de novo. E o nosso contato passou a ser diário. Rotinas criadas, conversas longas e o assunto: turfe. Eu, não turfista, confesso. Para ficar com o desvio de linha, o meu desvio é merecedor de desclassificação por qualquer comissão de corridas, e sem direito a apelação reconheço. Aos poucos absorvi os nomes, as pessoas, os craques, os hipódromos - em 2005 havia com o pai visitado Maroñas, San Isidro e Palermo - e toda a linguagem única do turfe e dos turfistas. Até que naquele setembro houve o desafio entre Russel Baze e Jorge Ricardo aqui no Cristal. Ele fez questão que eu fosse. Credenciado, lá estava, perdido e triste, era a primeira vez que retornava ao "prado" depois de o pai nos deixar. Conheci seus amigos que vieram. Com eles me senti em casa de novo, e Marcelo Fébula e Pablo Gallo estão conectados comigo desde aquele dia. Amizade forte, densa, sincera e profunda. E outros com quem mantive contato pelo e-mail, como o Lopecito do Los Pingos de Todos, fizeram de mim um turfista. Com o passar veloz dos anos, fiz alguns textos que a generosidade do Marcelo e do Lopecito publicaram nos Pingos. E apareci no De Turf também. 

Doente em 2015, com o corpo anunciando seu cansaço, as viagens cessaram, as publicações seguiram em ritmo um pouco mais lento. E chegou o dia de ele cruzar a sua linha de chegada. Tão logo escrevi ao Marcelo e entraram as mensagens dos amigos de todos os lugares por onde esteve e de pessoas que conheceu mais que nunca o orgulho do irmão, da pessoa, do trabalho incansável e amoroso que traduziu em seu espaço estavam ali registradas uma a uma. E a dor da partida se transformou em um sorriso e uma certeza. O rio de ontem é hoje um mar. Já andava desconfiado que tamanha identidade do Mário com a América do Sul estava muito forte, tanto que  o espanhol passou a ser sua língua oficial. Sem deixar de lado o nosso Brasil do Cristal, da Gávea, Cidade Jardim, Tarumã, Tablada. Não há nenhuma razão que faça De Turf Un Poco não continuar. O Mário está presente nos seus amigos, que seguem enviando material para o De Turf. Uma nova corrida está para ser dada e estaremos juntos para a sua memória ser preservada. O meu abraço emocionado a cada um dos seus amigos, também meus e o meu muito obrigado por tudo.

Fernando Rozano
DE TURFE UM POUCO

By: Constanza Pulgar - De Turf Un Poco

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De Turfe Um Pouco

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