domingo, 9 de diciembre de 2012


Limites do jornalismo e do poder

A edição do jornal Folha de São Paulo do último domingo é excelente para quem queira conhecer na prática o que são a liberdade de imprensa e os limites do poder.

Entre o noticiário sobre as travessuras da sra. Rosemary Noronha, ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo, está uma nova informação: ela conseguiu que uma empresa do Banco do Brasil contratasse a firma que tem seu marido, João Vasconcelos, como diretor e um genro como sócio.

A empresa se chama New Talent e recebeu R$ 1,12 milhão da Cobra, braço tecnológico do BB, num contrato com dispensa de licitação, por um trabalho de reforma das instalações da Cobra. As assinaturas do marido e do genro, Carlos Alexandre Damasco Torres, estão no contrato.

Foi assinado em maio de 2010, quando o vice-presidente de tecnologia do BB era José Luiz Salinas, apadrinhado do ex-ministro José Dirceu e do deputado Ricardo Berzoini.
Quem fez a intermediação, obtendo inclusive um documento supostamente falso, segundo a Polícia Federal, comprovando a capacidade da empresa de prestar o serviço, foi Rosemary, a Rose. Isso é informação, não desmentida por ninguém, até porque nenhum dos envolvidos no episódio se dispôs a falar à imprensa.

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Na página ao lado, da mesma edição da Folha, está a manifestação do ex-ministro José Dirceu. Ele também não desmentiu o noticiário.
Cuidou apenas de denunciar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que agora “chancela e apóia” aquilo que ele definiu como “Operação Mensalão 2”:
“O ex-presidente – disse ele – devia ter o recato e a humildade de se calar, e não usar essa questão para fazer crítica ao ex-presidente Lula.”
Para José Dirceu, “há um novo udenismo que age como no passado, de novo a serviço do conservadorismo e dos privilégios de certa elite...” e segue numa linguagem e num discurso repetido e desacreditado.
Essa também é uma informação, mesclada com opinião. Pode-se achá-la bizarra, a opinião, mas assim é.


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E, finalmente, uma opinião, da ombudsman do jornal, Susana Singer, ao analisar a questão da privacidade dos homens públicos.
Seu trabalho é criticar a própria Folha, sempre que necessário, e explica:
“Sem usar a palavra “amante”, o jornal conta que, nas 23 viagens internacionais em que Rosemary acompanhou Lula, a então primeira-dama, Maria Letícia nunca estava. Segundo a reportagem, havia um esquema especial que permitia o acesso à suíte presidencial nessas escapadas”.

E pergunta: “A Folha invadiu a privacidade de Lula? Sim. Era necessário? Sim.”
Por quê? Porque o relacionamento Rose-Lula resvala para a esfera pública. “Se o ex-presidente tiver incensado Rosemary por causa de um romance, isso teve conseqüências políticas”, pois segundo a Polícia Federal, Rose conseguiu “colocar, em postos-chaves do governo, amigos corruptos, que vendiam pareceres jurídicos favoráveis a empresários”.

Quer dizer: há limites, tanto para o jornalismo como para os poderosos de plantão, no quesito privacidade.
 

*Celito De Grandi

Natural de Marcelino Ramos/RS. Apaixonado pelo jornalismo, aos 14 anos Celito já atuava na Sociedade Rádio Marcelinense e, um ano depois, era secretário de redação do jornal O Semeador, daquela cidade.  Em Porto Alegre, começou a vida profissional como repórter, no Diário de Notícias  de 1961/70, ocupando, sucessivamente, as funções de Redator, Editor do II Caderno, Secretário Geral de Redação e Chefe-Geral de reportagem dos “Diários Associados” (Jornal, Rádio e TV). Uma das primeiras coberturas para as quais foi destacado está o histórico movimento da Legalidade, liderado por Leonel Brizola, no Palácio Piratini. Em 1961, venceu o Concurso de Reportagens sobre a Feira do Livro, então promovido pela Câmara Rio-grandense do Livro e Associação Rio-grandense de Imprensa. Em 1970 foi Chefe-Geral de reportagem do Jornal Zero Hora, assumindo, nesse mesmo ano, a Direção da Sucursal do Jornal Correio da Manhã, em Porto Alegre, onde permaneceu até 1973. Em 1974, voltou aos “Diários Associados” para ocupar os cargos de Superintendente de Imprensa da Empresa e de Diretor do Diário de Notícias. Com seu irmão, Luizinho De Grandi, funda a Empresa Jornalística De Grandi Ltda. e adquire, dos “Diários Associados”, o jornal A Razão, de Santa Maria/RS. Em dezembro de 2004, assumiu o cargo de Coordenador Geral da Assessoria de Comunicação Social do Governo do Estado. E a partir de janeiro de 2007, a Superintendência de Comunicação Social da Assembléia Legislativa. Nos últimos anos, tem se dedicado também à literatura. Há contos em várias antologias, entre elas, Contos de Oficina 13 (1994), Caio de Amores (1996) e Manancial (2004).  Em 2002, publicou o livro Loureiro da Silva, o Charrua e, por ele, recebeu o Premio Açorianos 2003, como Autor Revelação na Categoria Especial. Em outubro de 2005, lançou o livro Diário de Notícias, o romance de um jornal e, em 2008, em parceria com a jornalista Nubia Silveira, escreveu Cyro Martins, o homem e seus paradoxos. Em outubro de 2010, finalmente, foi para as bancas o livro Caso Kliemann, a história de uma tragédia , absoluto sucesso de crítica e de público, já em terceira edição.  Celito de Grandi já recebeu dois prêmios: o título de Profissional do Ano, do site Coletiva.net e, no Prêmio ARI de Jornalismo 2010, o troféu “Antônio Gonzales”, por sua Contribuição Especial à Comunicação Social.

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