
CYRO FIUZA, UM VETERANO CRONISTA QUE NOS DEIXA AOS 90 ANOS.
Foi na terça-feira, dia 30, que o turfe brasileiro perdeu uma parte de sua história com o falecimento do jornalista paulista Cyro Fiuza, aos 90 anos. Entre os anos de 1950 até 1990, não houve momento marcante nas corridas de cavalo que esse jornalista não tivesse acompanhado, cobrindo para as mais importantes páginas de turfe como dos jornais O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, O Dia e revista Turf & Fomento.Foi no Estadão, entretanto, que passou a maior parte desse tempo. Ao todo, quase 30 anos, entre os prédios do Centro e da Casa Verde. No primeiro, acompanhou, no final dos anos 60, o cerco cada vez maior da censura a tudo o que era produzido na redação do jornal. No segundo, viu explodir em meados da década de 70 uma bomba no estacionamento onde os jornalistas deixavam seus carros – um atentado terrorista contra o jornal e contra a democracia.
Srs. Luiz Oliveira de Barros, Nicolau Chequer, Cyro Fiuza,
Dino Zaneti e ao fundo, Carlos e Fausto Macedo.
O prédio do centro lhe trazia boas recordações. Ainda mais depois que eu fui trabalhar no Diário Popular, na mesma tradicional esquina da Major Quedinho com Martins Fontes. Um orgulho e tanto para quem levava o filho ainda pequeno para passear em meio às máquinas de escrever e as laudas nos finais de semana. Orgulho meu também, que conheci a primeira redação com cerca de seis anos de idade. Era a do jornal O Dia, no centro da capital, com suas oficinas ainda funcionando com as linhas de chumbo, ou chumbão, como diziam os veteranos jornalistas.
No período em que atravessou os corredores dessas notáveis redações, Cyro Fiuza também militou na Associação de Cronistas de Turfe do Estado de São Paulo, sempre atuando como mediador nos momentos de crise e nas disputas eleitorais, contribuindo para encontrar soluções com seu jeito calmo e amigável de resolver as coisas.
Sempre defendeu o bom convívio dos jornalistas com as diretorias do Jockey Club de São Paulo, porém, mantendo a mesma distância que, acreditava, deveria haver entre Igreja e Estado. Cada um com suas reivindicações e sua autonomia. Sua preocupação era mais a de comprar um jazigo para enterrar cronistas que morriam sozinhos – o que não era difícil de acontecer para quem vivia em ambiente de jogo, ou a de manter um caixa para momentos em que um companheiro fosse demitido. Não trocaria demandas como essas por uma festa ou um agrado vindo da diretoria, nos moldes do que seria hoje aceitar alguns ingressos para assistir o próximo festival de música no hipódromo ou coisa que o valha. Festinhas e agrados definitivamente não chamavam sua atenção.
Mesmo depois de aposentado no Estadão, ao atingir a compulsória dos 70 anos, não deixou de comparecer ao hipódromo nos finais de semana, acompanhando as corridas e revendo os amigos no café das tribunas sociais. Achava um absurdo terem acabado com a sala de imprensa localizada nas tribunas dos profissionais. Num claro desrespeito de uma determinada diretoria e de uma gerência de comunicação sem jornalistas, não só acabaram com a sala como deram sumiço na valiosa bancada de madeira maciça que trazia gravada em placas de metal dourado os nomes de alguns dos jornais que cobriam turfe, como Estadão, Folha, Diario Popular e Gazeta Esportiva. Para ele, aquilo era o fim. Pelo menos, o fim da imprensa escrita.
Há seis anos, após uma queda mais séria quando se dirigia ao Hipódromo Paulistano, Cyro Fiuza parou definitivamente de acompanhar ao vivo as corridas. Mas nunca deixou de assistí-las pela TV Jockey. Gostava disso e de ver o seu São Paulo Futebol Clube em ação. Há um mês, uma nova pneumonia o levou de volta ao Hospital Santa Isabel. Forte como era, livrou-se da doença em apenas três dias. Mas não conseguiu mais recuperar a plenitude de sua saúde, com o peso dos 90 anos fazendo-se presente e, dessa vez, de forma definitiva.
Cyro Fiuza sendo entrevistado pelo Faustão há 30 anos, na redação do Estadão.
Cyro Queiroz Fiuza
N. da R.: A reportagem do Haras Louveira da revista Turf & Fomento, prevista para ser publicada esta semana na newsletter da APFT, poderá ser vista pelos leitores na edição da próxima quinta-feira.
Associação Paulista de Fomento ao Turfe - APFT
Posted by Mário Rozano
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