

MEMÓRIA
CENTENÁRIO DE DOIS MESTRES
Homenagens ao baiano Jorge Amado e ao pernambucano Nelson Rodrigues, nascidos em agosto de 1912, incluem desfiles no Carnaval do RioNelson Rodrigues
As comemorações do centenário de nascimento do dramaturgo Nelson Rodrigues, celebrado em 23 de agosto de 2012, já começaram e se estendem pelo ano que vem inteiro. A festa atinge – literalmente – dimensões carnavalescas: no Rio, o dramaturgo tornou-se até tema de escola de samba, recebendo homenagem da Viradouro.
Nos palcos, o autor, que morreu em 21 de dezembro de 1980, será celebrado com montagens de suas peças, criadas por alguns dos mais renomados artistas do país, como Marco Antônio Braz e Christiane Jatahy.
E não só peças. O romance O Casamento ganha versão encenada, numa parceria entre os grupos Bendita Trupe e Teatro Promíscuo, que também batalha com a Funarte uma publicação bilíngue (português e espanhol) de suas obras teatrais completas. Em 2012, o autor inspirará ainda um musical (O Beijo no Asfalto, com direção de João Fonseca, composições e atuação de Claudio Lins).
Não poderia ser diferente. Antunes Filho, um dos principais nomes do teatro brasileiro nos últimos 50 anos, diretor que foi pioneiro ao vislumbrar Nelson Rodrigues como um autor trágico e não de costumes ou melodramático, divide a dramaturgia do país entre pré e pós-Nelson.
– Ele é o maior escritor de teatro do Brasil – diz o encenador.
Marco Antônio Braz define o trabalho do dramaturgo como revolucionário:
– Sua obra foi transformadora, na forma e no conteúdo, e absolutamente necessária para compreensão do Brasil, do brasileiro e do ser humano em si – e não de uma determinada classe e seus costumes, como já se pensou. O que Nelson traz à tona é lama, dejeto e sombra, tudo que pretendemos esconder em detrimento da pureza de uma idealização moral.
Braz, em São Paulo, e Christiane Jatahy, no Rio de Janeiro, dedicam a Nelson Rodrigues duas ocupações, nas quais diversas obras do autor são relidas, entre elas Os Sete Gatinhos. A versão carioca da peça estreia em janeiro, com concepção da coreógrafa Dani Lima, fundadora e ex-integrante da Intrépida Trupe. Em fevereiro Os Sete Gatinhos estreia em São Paulo, com direção de Nelson Baskerville e Renato Borghi no elenco.
Baskerville também apresenta em janeiro, dentro da ocupação de Braz, a segunda parte de 17 x Nelson, sua radiografia para os 17 textos teatrais do autor. A peça ganha o subtítulo A Nudez Feia da Família Brasileira. Para o encenador, ninguém conheceu melhor a família brasileira do que Nelson Rodrigues.
– Nelson desvenda a família como sendo, ao mesmo tempo, ninho de conforto e foco de neurose do indivíduo – explica ele, que faz do autor um personagem em cena, conduzindo as histórias amalgamadas.
A lista de encenações de Nelson Rodrigues para 2012 é grande. Destacam-se ainda obras como Vestido de Noiva, dirigido por Jatahy em fevereiro, Senhora dos Afogados, montagem carioca que deve estrear na cidade no ano que vem, concebida por Ana Kifouri – que também planeja montar A Serpente em 2012. Alexandre Heinecke se propôs uma dobradinha: encenar A Mulher sem Pecado e Viúva, porém Honesta ao mesmo tempo e com o mesmo elenco. A previsão de estreia é agosto, mês de aniversário de Nelson.
Jorge Amado
Uma ampla programação, que vai de exposição a tema de escola de samba, está prevista para celebrar o autor de Gabriela Cravo e Canela, aquele que, no entender da escritora Ana Maria Machado, foi capaz de trazer para a ficção contribuições positivas da sociedade, como o interculturalismo, a miscigenação, o hibridismo cultural. A nova presidenta da Academia Brasileira de Letras, aliás, pretende transformar a sede da centenária entidade em palco para a literatura de Jorge Amado, nascido em 10 de agosto de 1912 e morto em 6 de agosto de 2001.
– Queremos fazer uma revisão crítica da obra de Jorge Amado e abrir possibilidades para que outros também façam isso no Brasil e no Exterior. Vamos ver como ele é recebido hoje – diz.
Outro grande evento vai acontecer no Museu da Língua Portuguesa. Lá, em março, será aberta a exposição Jorge, Amado e Universal, que vai reunir manuscritos, fotos e objetos do escritor. A coordenação da curadoria é de Ana Helena Curti. A exposição será interativa – os visitantes vão dispor de sons e imagens, muitas delas acessadas pelo tato, que apresentarão aspectos da obra do autor. É a figura do próprio escritor que vai conduzir o público pelos corredores do Museu da Língua Portuguesa. O espaço físico vai ser criado por uma dupla de craques, Daniela Thomas e Felipe Tassara.
– O objetivo é mostrar que Jorge continua atemporal, seja em seus escritos, seja em suas atuações políticas e sociais – diz Ana Helena.
A reedição da obra pela Companhia das Letras permite comprovar isso. Autora de um livro em que analisa a escrita amadiana (Romântico, Sedutor e Anarquista, lançado pela Objetiva), Ana Maria Machado defende a importância para a literatura nacional do romancista baiano, que fez a fusão amorosa entre o erudito e o popular, que erotizou a narrativa, que trouxe à tona questões sobre o não sectarismo, a miscigenação, a luta contra o preconceito e contra a pseudo-erudição europeia.
Uma mistura tão heterogênea que explica o interesse da escola de samba carioca Imperatriz Leopoldinense, que prepara seu próximo desfile inspirado nos personagens de Amado. Na mesma linha popular, justifica a decisão da TV Globo em novamente adaptar Gabriela no formato de novela, agora com Juliana Paes, com estreia prevista para agosto, mês do centenário.
As festividades
JANEIRO: Instalação de totem informativo em Salvador e cidades baianas.
FEVEREIRO: O escritor será tema da escola de samba Imperatriz Leopoldinense; e O País do Carnaval será tema de camarote do circuito Barra-Ondina.
MARÇO: Abertura da exposição Jorge, Amado e Universal, no Museu da Língua Portuguesa, São Paulo; lançamento de Navegação de Cabotagem, edição especial ilustrada (Companhia das Letras).
AGOSTO: Estreia nova versão de Gabriela Cravo e Canela, na TV Globo; Jorge, Amado e Universal chega ao Museu de Arte da Bahia; lançamento de Os Velhos Marinheiros, em edição comemorativa (Companhia das Letras); lançamento de Jorge & Zélia, correspondência organizada por João Jorge (Companhia das Letras)
DEZEMBRO: Lançamento de caixa com Capitães da Areia, incluindo o filme homônimo dirigido por neta de Jorge, Cecília Amado.
ZH
Posted by Mário Rozano
Fotos: Juan Carlos Gomes/BD - Jorge Amado
Ag O OGlobo. BD - Nelson Rodrigues
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