Stefan Friborg, o homem que queria correr todos os Grandes Prêmios do mundo

Pode-se conhecer um homem pelo tamanho de seus sonhos. O do sueco Stefan Friborg, um apaixonado pelo cavalo de corrida era: “Correr todos os Grandes Prêmios do mundo”, disse ele uma vez ao treinador Julio Cezar Sampaio.

Uma lacuna irreparável para o turfe mundial o falecimento de Stefan Friborg, 67 anos, na quarta-feira, em Dubai, quando dormia, descansando para ver mais um dia do Carnival, cujos seus animais participam desde 2005, quando o velocista Sushi-Bar (Jato D’Agua e Sassy Doll, por Giboulle, criado pelo Haras San Francesco) tornou-se o primeiro cavalo nascido no Brasil a vencer uma carreira nos EAU.

Homem reservado, muito respeitado e querido no mundo do turfe, Stefan era admirado inclusive por profissionais que não tinham vínculo com o Estrela Energia. O treinador Venâncio Nahid, ao saber do fato, mostrou-se bastante triste: “Um acontecimento terrível. Uma pessoa tão educada, que passava um amor enorme pelo nosso esporte, que abriu tantas portas, para tantos profissionais… Lamentável, realmente, desejo todo conforto e paz para seus familiares e tomara que este belo projeto siga em frente para homenagear alguém que tanto fez por esse turfe que anda tão carente”.

O veterinário Flávio Carneiro, que trabalha com a equipe do Estrela Energia desde 2003, também falou sobre Stefan e um pouco da história do Estrela Energia:

“O Stefan era um homem objetivo, focado, determinado, atencioso com os mínimos detalhes e que tratava a todos de forma igual, sem distinção de cargos ou afins. Um grande gerador de oportunidades, que levou para o exterior vários profissionais, como João Moreira, Tiago Josué Pereira, estes ainda seguem por lá e fazendo sucesso, Marcello Cardoso, Jorge Leme, entre outros tantos.

Uma das coisas que o Dr. Stefan mais orgulhava-se era de, como proprietário, com a mesma farda: azul, com estrelas, faixa e boné ouro, ter ganho corridas nos cinco continentes. A sua satisfação ao falar isso era contagiante, seus olhos brilhavam. Quando em 2003 fui contratado para o Estrela Energia as ideias já eram grandiosas e o projeto caminhou com a construção no final de 2005 do Centro de Treinamento, em Teresópolis. Ele sempre repetia: O CT treina para a Gávea e a Gávea treina para o mundo.

Depois, com a aquisição do Haras Tijucas do Sul, cuja primeira Geração nascida foi a da letra D, em 2008, era comum em suas idas lá, ir até o campo ver os animais soltos, correndo em liberdade. Para ele não bastava sentar na frente das cocheiras e ver um a um de seus cavalos, a beleza estava nos galopes e caminhadas pelos vastos campos verdes.

Agora, o sentimento de vazio é muito grande.  Durante o final de semana e a próxima semana, iremos conversar com a Dalva Friborg para ver como as coisas irão caminhar. Repito, o momento é de dor e resignação, mas fica também o orgulho de participar de algo tão grandioso, de ter visto o sonho de um amante do turfe realizar-se, com animais de sua farda atuando na França, Inglaterra, Estados Unidos, Dubai, Suécia, Alemanha, além de Chile e Peru.”

O Comendador José Lírio Aguiar, um dos grandes amigos da família Friborg, também falou sobre o seu amigo Stefan:

“Stefan era um homem de hábitos simples e atitudes grandes. O conheci através do Eddy Hedstrom, do Stud Mr. Leed. Tive o prazer de ajuda-lo a comprar os primeiros animais aqui no turfe carioca, além de lhe vender a sua primeira cocheira. Quando estava no Brasil e eu no Rio de Janeiro sempre jantávamos juntos, realmente um grande amigo. Seu legado para o turfe é enorme e espero que a história do Estrela Energia siga em frente, pois nossa atividade precisa de homens como ele. Falei com a Dalva há poucos instantes, ninguém se prepara para um momento trágico como esse, mas tenho certeza que ela terá forças para levantar, sacudir a poeira e seguir em frente com império que o Stefan construiu ao longo do tempo e que ela sempre esteve ao seu lado.”, finalizou emocionado o titular da farda rubro-negra.

Se a 1ª vitória de G1 do Estrela Energia veio através de New Dreams (Blush Rambler e Dream Of Simless, por White Clover- criada pelo Haras Pemale) no Grande Prêmio Marciano de Aguiar Moreira (G1), em 2003, muitas outras aconteceram em seguida. Veja abaixo, alguns dos principais animais que fizeram realizar-se nas pistas o sonho de Stefan Friborg:

-  Para-Choque (New Colony e Freluche, por Ogygian – criado pelo Haras Santa Maria de Araras), ganhador do Grande Prêmio Major Suckow (G1), em 2006;

- Crystal Day (Hostage e Bigckoa, por New Colony – criado pelo Haras do Verde Vale), ganhadora do GP Roberto e Nelson Grimaldi Seabra (G1), em 2006;

- Estrela do Oriente (Redattore e Academia Real, por Bank’s Gold) – criado pelo Haras São José da Serra), ganhador do GP Associação Brasileira dos Criadores e Proprietários do Cavalo de Corrida (G1), em 2008;

- Gibson (Roi Normand e Eletrizada, por Rasputin – criado pelo Haras Santa Ana do Rio Grande), 1º colocado no GP Cruzeiro do Sul – Derby (G1), em 2009;

- Uncle Tom (First American e Just Lucky, por Spend A Buck – criado pelo Haras Santa Rita da Serra), ganhador doGP Associação Brasileira dos Criadores e Proprietários do Cavalo de Corrida (G1), em 2009;

- Estrela Anki (Thignon Lafre e Marne La Coquette, por Effeverscing – criado pelo Haras São José da Serra), ganhadora do GP Zélia Gonzaga Peixoto de Castro (G1), em 2009;

- Hot Six (Burooj e Baby Six, por White Approval, criado pelo Haras J.B. Barros), campeão do GP Asociación Latinoamericana de Jockey Clubes e Hipódromos (G1), 2009, em Cidade Jardim;

- Energia Cósmica (Thignon Lafré e Chapelais, por Hostage – de sua criação), vencedor do GP Linneo de Paula Machado(G1), em 2010;

- Energia Davos (Torrential e Star Brisingamen, por Maria’S Son – de sua criação), vencedor do GP Linneo de Paula Machado (G1), em 2011;

- Perichole (Fahim e Voile D’Or, por Effeverscing – criada pelo Haras Tributo À Ópera), vencedora dos GGPP Zélia Gonzaga Peixoto de Castro (G1) e Marciano de Aguiar Moreira (G1), ambos em 2011;

- Energia Fribby (Agners Gold e Karla Dora, por Nugget Point – de sua criação), campeã do GP Diana (G1), 2013, em Cidade Jardim e a Stand Cup (L.) na Inglaterra, marcando a 1ª vitória de um animal criado no Brasil, na Inglaterra;

- Natagora, égua francesa, tordilha, filha do japonês Divine Light, que proporcionou a 1ª vitória de uma farda oriunda do Brasil a vencer um G1 na Europa, os 1000 Guineas (G1) e Cheveley Park Stakes (G1);

- Linton (Galileo e Our Heather por Centaine), ganhador, em Eagle Farm, na Austrália, do Stradbroke Handicap (G1), em 2013:

Glória de Campeão (Impression e Audacity, por Clackson – criação do Haras Santarém) campeão da milionária Singapore  Airlines International Cup (G1 local), em Singapura; e da Dubai World Cup (G1), em Dubai. (ver filmes abaixo)

Por Fernando Los com Gerencia de Turfe JCB

Fotos: Arquivo & Internet