A inesgotável energia de Gabriel Meneses
Por Cyro Fiuza
Jóquei de renome internacional, professor da escolinha de aprendizes, comentarista da TV Jockey, “repórter por um dia” no dorso de um cavalo durante o GP São Paulo de 2006, o chileno Gabriel Meneses exerce hoje mais uma atividade dentre as várias que já cumpriu no turfe. É comissário de corridas do Jockey Club de São Paulo, ajudando nos julgamentos com sua experiência adquirida ao longo de 3.270 vitórias conquistadas em hipódromos do Chile, Brasil, Argentina, Peru, Macau e Hong Kong.
Gabriel Meneses na sala de troféus
em sua residência-Foto:Ciro Fiuza
Aos 67 anos e com apenas 55 quilos – peso dos tempos da ativa – o ex-bridão fala com euforia de seus 46 anos de profissão como jóquei. “Ganhava mais corridas por causa da energia, da tocada, na reta final”, garante o chileno nascido em Piñuelas, distante 400 quilômetros de Santiago. Para quem o viu montar, é fácil lembrar que outras componentes formavam o perfil de Meneses, como o excelente cálculo de corridas e o bom conhecimento no ajuste de cada animal, ao colocá-lo em forma para as corridas.
Foram essas aptidões, aliadas à associação a algumas das melhores coudelarias brasileiras, que levaram Gabriel Meneses ao topo da carreira. O início, porém, não foi tão fácil, em um script que se repetiu ao longo da história com muitos jóqueis famosos. Meneses começou a montar com 14 anos, em Piñuelas, onde seu pai, Gilberto, era treinador. Transferiu-se para a capital Santiago em 1959, quando já acumulava 70 vitórias, mas nem assim passou no primeiro teste, quando um dos três avaliadores, o ex-jóquei Agustin Gutierrez, considerou que ainda não estava pronto. Preparou-se, fez novo teste e tornou-se primeira monta justamente das cocheiras do treinador Gutierrez. Nessa época, já montavam na capital seus irmãos Samuel e Fernando, que depois foram seguir carreira nos Estados Unidos.
Em 1968, poucos meses antes de se transferir para a Gávea, viveu um dos grandes momentos de sua então promissora carreira ao entregar uma placa comemorativa à Rainha Elizabeth II, que estava de passagem pelo Chile, a caminho do Brasil.
Gabriel Meneses na entrega de uma placa
comemorativa à Rainha Elizabeth II, Chile em 68.
No final do mesmo ano, desembarcava no Rio contratado pelo Stud Happy, de Hélio Perdigão de Freitas, com quem ficou dois anos. Depois, veio sua primeira fase de ouro no turfe carioca e brasileiro, ao ser contratado por Francisco Eduardo de Paula Machado para o seu centenário Haras São José & Expedictus. “Foram 12 ou 13 anos de muitas vitórias, com cavalos do nível de Altier, Baronius e Tibetano”, exemplifica. Com Altier, venceu as milhas internacionais de São Paulo, Rio de Janeiro e Argentina (San Isidro).
Com Tibetano, faturou o seu primeiro GP São Paulo. Com Baronius, campeão da Taça de Ouro, perdeu um polêmico GP Brasil para Big Lark, montado por outro grande jóquei, o recentemente desaparecido freio Antonio Bolino. Na listagem do São José & Expedictus, um infindável número de ganhadores clássicos como Heracleon, Apple Honey, Brulon, Derek, Aragonais, Luccarno, Aporé, Anglicano, Obelion, Toreador, Big Chief, Ruban Bleu, Super Star, Don Fabian.
Gabriel Meneses em Macau
Nesse período de Gávea, Gabriel Meneses consagrou-se e colocou seu nome ao lado dos melhores ginetes chilenos que já haviam passado pelo Brasil, como seu ex-professor Agustin Gutierrez (aquele mesmo que o reprovou no primeiro teste), o famoso Francisco “Pancho” Irigoyen, Juan Marchant, Osvaldo Ulloa, André Molina, Luiz “Negro” Dias, Sérgio Vasquez, Sérgio Azocar e Sérgio Vera. Em 1982, uma nova guinada na carreira. Era o momento de mudança para São Paulo, e início da segunda grande fase do piloto chileno, já definitivamente estabelecido no Brasil.
Foi através do Haras Inshalla, de Nagi Nahas, que Gabriel Meneses desembarcou em Cidade Jardim, construindo um cartel de inúmeras vitórias clássicas com Brown Tiger, Caesar Palace, Arabian Lady, Court Lady, Remember, Adjutor, Ashabit e M’Afrodite, com quem ganhou o GP 25 de Janeiro destribado. É ele quem conta: “perdi o estribo do pé direito logo na partida, mas felizmente mantive estribado o esquerdo. Fiquei com os joelhos bem fechados junto à égua e fui tirando posições até figurar em quinto na última curva. Consegui avançar e atropelar, para cruzar o disco com meio corpo de vantagem sobre a segunda colocada”, recorda Meneses.
Não foi apenas para o Inshalla que o chileno faturou em Cidade Jardim. Montou para o Haras Rosa do Sul, Stud Crespi, Haras Faxina, Haras São Luiz, Haras Larissa, Haras Jatobá, Stud Farda Vencedora, entre outros. Conquistou o GP São Paulo de 1984 com Ás de Pique e o de 1990, com Jex. Venceu o Derby Paulista com Rabat e com Palemon, neste derrotando potros do quilate de Much Better, Sandpit e Vomage. Em 1997, voltou à Gávea para vencer o GP Brasil com Jimwaki (vídeo).
Além de toda a plêiade de jóqueis chilenos citados nesta matéria, Gabriel Meneses não esquece dos colegas brasileiros, já que chegou a montar com Luis Rigoni e outros veteranos como Juvenal Machado da Silva, Antonio Bolino, Albênzio Barroso, Ivan Quintana, Jorge Garcia, Gonçalino Feijó de Almeida, o Goncinha, Edson Ferreira, e tantos outros. Lembra com orgulho que o campeoníssimo Jorge Ricardo o citou em um artigo e, perguntado quem foi o melhor jóquei que viu montar, não titubeia em apontar seu irmão Fernando Meneses e outro chileno, Fernando Toro, que fez carreira nos Estados Unidos.
Video e foto do G.P. Derby Paulista-G1 (22/11/1992) - 2400mG - PALEMON
Como já passou pela Escola de Aprendizes, Gabriel Meneses é questionado sobre o que pode aconselhar aos jovens que começam na profissão de jóquei. “Muito trabalho, uma atividade física que não faça encorpar – que pode ser corrida –, alimentação balanceada, procurar dormir cedo, comparecer aos treinos matinais e ter uma vida regrada. Outra coisa muito importante é se espelhar naquele que ele considere o melhor: como monta, como
toca, como bate com o chicote.
Gabriel Meneses exibe o troféu ganho no
Clássico Jinetes de America no Chile. Foto: Cyro Fiuza
Vídeo do Clássico Jinetes de América no Hipódromo Chile
Estude os páreos, o seu cavalo e o dos adversários, veja quem corre na frente, quem vem lá de trás, tudo isso vai influenciar na hora da corrida”, avisa. Para os jovens que se espelharem nele próprio, Gabriel Meneses conta que, além da energia que aplicava na reta final, ele quase nunca corria na frente. “Carreira se ganha na reta de chegada, no disco final. Por isso eu sempre vinha lá de trás, observando e estudando do páreo, procurando uma brecha por dentro para vir junto à cerca”. Quem tem mais de 35, 40 anos, e viu a tocada desse chileno em pistas nacionais e internacionais, sabe muito bem do que o veterano jóquei está falando. “Até hoje, quando chego na Gávea, sou aplaudido pelo público pelo que fiz nos anos em que montei lá”.
APFT - Associação Paulista de Fomento ao Turfe
Cyro Fuiza
By Mário Rozano
No hay comentarios.:
Publicar un comentario